segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Jorge de Sena


Tendo lido uma carta
(Tendo lido uma carta acerca de um seu livro de poemas , que oferecera.)

Por que entristeço ao ler o que de
meus versos escrevem, se não é de mim
que escrevem?
Será que chora em mim o que meus versos foram
antes de ser meus?
Por que pergunto, se já sei por quê?
Escuto longamente, leio, espero,
e o poema é voz de toda a gente, todos eles, que,
não se tendo ouvido, não a sabem sua.
E vêm chorar em mim o coração traído,
a música perdida em distracções urgentes,
uma palavra que ninguém falou.
Não entristeço,pois. Apenas sou pergunta,
e, sendo eu, me esqueço ao perguntar.
Post-Scriptum(1960)

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